quinta-feira, 28 de junho de 2012

Acenda a luz, por favor!

Ontem eu tive uma das piores experiências da minha vida. Imagine você que eu estava numa festa dançando, conversando e me divertindo até que reparei num menino. Comentei com a minha amiga e preciso dizer que ela foi falar com ele? Bom, encurtando a história, ele sentou ao meu lado, conversamos um pouco e antes que pudesse rolar qualquer coisa, para minha sorte, ele tirou o boné e a luz foi ligada! MEU DEUS! Ele não era nem um pouquinho bonito, mas eu juro que a situação pode piorar! Em uma determinada hora ele tirou do bolso um cigarrinho, começou a fumar e eu a tossir igual a uma tuberculosa. Pois é, querida, graças a Deus a luz foi ligada. O menino fumante do boné não foi nada além do menino fumante do boné para mim mas mais tarde, antes de domir, uma dúvida ficou me atormentando, latejando, piscando, como aqueles letreiros luminosos, na minha cabeça: quantos meninos fumantes de boné já passaram pela minha vida? Claro que não estou falando no sentido literal mas sim, quantas pessoas que eu achava o máximo na verdade escondiam seu verdadeiro eu por trás de um bonezinho e uma ausência de luz? Perdi já a conta de quantas pessoas eu já me decepcionei ao longo da minha vida. Foram amigos, ficantes, namorados, paqueras, conhecidos .. todas as classificações possíveis. Perdi já a conta de quanto uma situação já me angústiou, já tirou o meu ar, o meu chão, já provocou aquele sorriso bobo no meu rosto, gargalhadas altas, e hoje eu nem lembro direito o que aconteceu. Perdi já a conta de quantas vezes usei as frases: "Não precisava ser dessa forma!", "Porque ele(a) é assim?", "Que decepção!", "Nunca mais vou gostar de alguém como gostei dele!", "Cansei! Nunca mais!". Tudo dito em vão. Tudo vêm, muda e volta, em todos os sentidos. Nada é eterno e se fosse, algumas coisas, mesmo depois de muito tempo, não teriam tanta graça, tanto brilho e não deixariam tanta saudade. Nem todas as pessoas serão sinceras, mesmo que elas não saibam disso, e se fossem, você não teria "aquela" afinidade e bem estar com uma ou duas pessoas. Afinal, você não teria um batalhão de amigos? Nem todos os seus relacionamentos vão dar certo, nem todos os meninos serão de verdade do jeito que você o vê hoje mas pense pelo lado positivo: tem coisa mais gostosa do que virar para sua amiga e dizer: "Nossa, onde eu estava com a cabeça quando chorei por isso?"? Levante a cabeça, lave o rosto e acenda a luz, por favor!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Pérolas do meu e-mail

Antes do livro, eram cerca de 100. Depois dele, passaram a chegar uns 160 emails por dia. Embora eu não consiga responder, a leitura dessas mensagens sempre me encheu de alegria. Dá força receber tanto carinho, emociona saber como meu livro mexe com as pessoas. Mas às vezes os emails me surpreendem e/ou me fazem rir. Abaixo, alguns trechos dessas pérolas.

“Juliana, tenho que fazer um trabalho pra escola, valendo nota, preciso ler um livro e escolhi o seu, minha prima me emprestou. Você pode me ajudar? Você só precisa escrever um perfil curto de cada personagem (máx. 7 linhas) e depois um resumo da história (máx 20 linhas). Não demora, por favor! Tenho que entregar daqui a 2 dias. Valeu!!!!!!”


Que tal? E eu que achava que EU era cara de pau… Tsc, tsc, tsc.

“Juliana, atachado vai um livro que escrevi sobre física quântica e sua relação com astrologia. Parece complexo, mas não é. Foram anos de estudos. Leia, revise, escreva o prefácio e o encaminhe à sua editora com uma carta de recomendação. Você não vai se arrepender. Espero uma resposta rápida, ok? Não me decepcione. Pela atenção, obrigado.”

Detalhe: o livro tinha 1200 páginas.

“Querida Juliana, é com júbilo maior que lhe escrevo esta missiva eletrônica. Sou um escritor cujo sonho é publicar um livro e me lançar nessa carreira que lhe abraçou tão intensamente. Escrevi um livro, um dos melhores que já li, modéstia à parte, e gostaria, com a sua ajuda, de publicá-lo. Você não precisa nem ler a minha obra. Eu lhe garanto: ela é excelente. A única coisa que peço é que você assine o livro comigo. Com o seu nome ao lado do meu, garanto a minha entrada no mundo das letras. Os direitos autorais serão, evidentemente, divididos em percentuais que podemos negociar. Que tal? Proposta irrecusável, não?”

Recusei a proposta irrecusável e recebi de volta um email indignado, com mil desaforos raivosos e palavrões impublicáveis. Tadinha de mim.

“Juliana, tenho 12 anos e 7 meses e tô pronta pra beijar. Minha mãe não acha isso, mas eu acho. Por isso, vim te pedir ajuda. Me ensina a beijar? Onde boto a língua? O que faço com ela? Posso treinar na tela do computador?”

Mensagens desse tipo eu recebo aos montes (com algumas variações). E, não, não acredito que ninguém, em tempo algum, seja capaz de ensinar a beijar via email.

“Juliana, adoru seu geito expontanio. kero iscreve un livro, mais num sei pur onde comessa. Td mundu diz que nassi p issu. Mi ajuda?”


Esse eu não resisti e respondi: “Comece lendo muito. Muito mesmo. Só assim você vai ganhar intimidade com a nossa língua para depois pensar em escrever um livro. Boa sorte!”

“Juliana, trabalho como DJ há muito tempo. Mando bem, boto geral pra dançar. Mas preciso virar um DJ-celebridade pra ganhar mais dinheiro. Você deve conhecer todos os DJs-celebridades. Me dá o email deles? Aí eles podem me passar as festas que eles não quiserem fazer. PS: Tenho 13 anos, nunca li nenhum livro seu, mas te adoro. Minha vizinha leu todos. Se você me ajudar prometo fazer sua próxima festa de graça.”

Hum… É… Assim… DJ-celebridade? Por que ele acha que eu conheço “todos os DJs-celebridades”? Quem são os DJs-celebridades? Tive vontade de dizer: inscreva-se no próximo BBB. Mas ele tem só 13 anos.

Viram como é divertido? Vou pegar emprestado o bordão do meu vizinho de blog, Leonardo: “é cada uma que parece duas”. Ou três.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Um aperitivo do meu livro ;)

Depois de meses sem internet, voltei. Só não podia ter deixado meu querido blog assim, tão esquecido. Tsc, tsc, tsc. Má blogueira! Má blogueira! Para compensar os dias de ausência, estou postando praticamente todos os dias e aí vai uma crônica do livro "Refrigerantes, relacionamentos e outras coisas que engordam". Divirtam-se!

O fim num bilhete

Na última semana de aula #aula de recuperação, o que é pior# fiquei com o Sapo, um garoto da minha sala feio-feio-feio, mas supergente boa. Confesso que não me empolguei nada com ele, nosso beijo não encaixou. Para mim, íamos continuar a ser amigos. Amigos que se beijaram, mas apenas amigos. E não se falaria mais no assunto “ficada”. Mas o inusitado aconteceu.
“Eu cinto muito, mais meu amor pur vc acabo. Acabo geral. Fui”.
Essas foram as… como posso dizer… frases escritas numa gaivota de papel que me atingiu em cheio na nuca no meio da aula de Matemática. Fiquei muito injuriada. Fala sério! Como assim um bilhete para terminar uma ficada? Como assim esse bilhete chegou na forma de uma gaivota de papel? E “amor”? Quem foi que falou em amor? Fiquei só duas vezes com o cara! A segunda para dar uma chance, que fique claro. Queria ver se não encaixávamos mesmo, poxa.
O pior não foi isso! Não bastasse viver a bizarra cena de ser atingida na sala de aula por uma gaivota idiota, a gaivota estava suuuupermal escrita! Que língua era aquela? Como é que eu pude ficar com uma pessoa que escreve “cinto” em vez de “sinto”, “pur” e “acabo” sem o “u”?! Que é que é isso?! Sem contar o “mais”, que para ele é a mesma coisa que “mas”. Eu sou uma otária, mesmo! Fiquei com um jegue! Que vergonha!, lamentei.
- Eu ligaria pra ele pra tirar essa história a limpo! Como assim “amor”? Não teve tempo pra amor! - opinou Giovanna.
- Não dá pra amar um cara que beija daquele jeito, com língua de manivela.
- Além de feio, o Sapo beija mal, duda? Sério?! - perguntou Nanda, chocada.
- A língua dele não parava de rodar, parecia querer brigar com a minha, sabe? Um horror!
De repente, no meio desse assunto importantíssimo, aparece no meu quarto minha mãe, telefone sem fio na mão. Passou o recado entre os dentes, o ódio em estado bruto no seu semblante:
- É o palhaço burro e sem coração que terminou com você com uma gaivota de papel, Maria Eduarda! Vê se não vai se derreter pra ele! Você tem que se valorizar! - rosnou, antes de bater a porta e sair.
Do outro lado da linha, a voz do palhaço burro e sem coração parecia embargada.
- Pô, aí, foi mal, duda… Tô arrependidão… Cê é mó gente boa, desculpa terminar com você daquele jeito - ele disse.
- A gente não tinha nada pra terminar! A gente ficou uma vez na festa da Carol e outro dia, depois da escola. Mas nem considero aquilo um beijo, foi praticamente uma lambida, de tão rápido.
- Eu sei… é que eu não tô mais a fim de você, na boa…
- Sapo, entende, EU não estou a fim de você! Nunca estive! Você beija mal, é zero bonito, zero charme, zero veneno…
Nesse minuto, um pedaço de papel surgiu por baixo da porta. Fiquei intrigada, as meninas idem. Era um bilhete. O segundo daquele dia. Dizia ele: “E zero inteligência, zero conhecimento da alma feminina e zero noção da língua portuguesa! Você é um asno, meu filho! Um semi-analfabeto, não acredito que está na mesma sala que eu! Assinado: Mamãe”.
Abri a porta e até tentei dar uma bronca na dona Dolores pela falta de educação de ouvir minha conversa atrás da porta. Mas quem disse que consegui? Olhei pra ela e caí numa gargalhada silenciosa enquanto ele despejava erros de português no meu ouvido. Fechei a porta e acabei dizendo quase tudo o que ela escreveu.
Fiquei com peninha de chamar o coitado de asno, mas minha dileta progenitora mandou outro bilhete: “ASNO! ASNO! ASNO! Fala sério, filha! Trata de obedecer à mamãe!”.
Eu sucumbi ao apelo materno.
Não adiantou nada. Ele não sabia o que era asno.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Papai mestre-cuca

Quando minha mãe terminou sua faculdade de enfermagem e arrumou seu emprego no hospital local, meu pai aprendeu a cozinhar, o que achei incrível para uma pessoa que mal sabia fritar um ovo. E ele até que cozinha direitinho. O problema é que deixou a modéstia no passado:
 - Não é brincadeira, não. Sou o melhor chef de cozinha que eu conheço - disse, ridículo hoje (08/06/12), dia em que convocou os filhos, (Jullie, Edson, Ana Julia e Eu) vovó Dalva e minha mãe querida para um jantar, feito por ele mesmo, repito, feito por ele mesmo. - Não vai ser qualquer jantar, vai ser o melhor jantar da vida de vocês.
 - Filho meu tinha que cozinhar bem. Eu sou um espetáculo na cozinha - comentou minha avó, mostrando de quem meu pai tinha herdado a autoconfiança. - O meu filhinho é naturalmente talentoso. É de berço.
 - Filhinho, dona Dalva? Carlos não tem nada de diminutivo, está com uma pança gigante que parece que está no sétimo mês de gestação - implicou minha mãe.
 - Mas a mulherada não reclama - retrucou meu pai.
 - Claro, a mulherada tá desesperada, doida pra desencalhar, não importa com quem, desde que tenha dente - chicoteou minha mãe.
 UAU! Aquilo é que era língua ferina!
 - Meu amor, tá sensacional essa conversa, mas vamos continuá-la na mesa, por favor, porque vou começar a servir o melhor jantar do mundo - pediu meu pai, humilde.
 Fomos para a mesa e o assunto havia morrido, para o alívio de todos.
 - Olha o arroz com brócolis! - anunciou o chef.
 - Eu odeio brócolis, pai.
 -  Deixa de ser fresca Juliana. Mas se não quiser não come, tem muitos pratos ainda.
 - Isso, meu filho. Fartura é o que importa! - comemorou vovó.
 - Moqueca de camarã, pessoal!
 - Eca! Eu sou alérgica a camarão, pai. - reclamou Ana Julia.
 - Pai, você conhece pelo menos um pouquinho os seus filhos? - impliquei.
 - Conheço e sei que são todos chatos. Agora, preparem-se, para finalizar ... Lombinho de porco a moda Carlos Magno. Bon apetit!
 - Só isso, Carlos? Só isso que você fez? Não tem uma carne assada, uma farofa, um estrogonofe, um franguinho grelhado, uma lasanha, um bife acebolado ... nada? Um pastelzinho de entrada, um croquete, uma linguiça, um carpaccio? As crianças vão morrer de fome com essa escassez de comida - resmungou minha avó.
 - Eu vou morrer de fome porque não tem nada que eu goste aqui - reclamou Edson.
 - Amor, você não conhece a familia que tem mesmo, né ? Mas ja que não querem comer, eu como por todo mundo - avisou mamãe.
 - Depois não sabe por que é que está gorda.
 - Eu não estou gorda, dona Dalva, estou apenas um pouco acima do peso.
 - Então: Gorda - sim, a vovó implica com minha mãe até hoje, desde que ela tinha 13 anos de idade, sogras!
 Mamãe engoliu em seco antes de dar a primeira garfada.
 - Amor, isso é sal puro! - chiou, levantando-se e correndo para a cozinha, para beber um litro d'água.
 - Meu filho, está terrível. Além de estar com cheiro de chulé!
 - Tá tão ruin assim? - quis conferir meu pai.
 - Tá péssimo! - opinei.
 - Pô, pai. Achei que você sabia cozinhar - rosnou Edson. - Tem Miojo?
 - Não estou entendendo ... Eu fiz com tanto carinho ...
 - Carinho não é tempero, amor - comentou minha mãe.
 - Vou fazer macarrão pra todo mundo. - Levantou-se minha avó.
 - Não tem macarrão.
 - Arroz?
 - Acabou. Nós só iremos fazer compras amanhã.
 Terminamos o dia comendo ovos fritos que a vovó Dalva fez. Papai com a cara decepcionada, vovó com a cara esticada, nós com cara de tacho e mamãe com uma cara bem alegrinha. Ela adorou ver que, naquele dia, papai foi uma negação na cozinha.
 - Espero que tenham aprendido com o erro do seu pai, crianças.
 - Qual deles? - provocou Ana Julia.
 - Modéstia e humildade são características importantíssimas num ser humano. Sem elas, o tombo da gente pode ser bem maior - disse magnânima.
 Tadinho do papai. Ele havia se esforçado, feito com amor, comprado os produtos da melhor qualidade ... Ele merecia uma segunda chance. Estava prestes a dizer que não estava tão ruim assim e que, se ele quisesse, deixaríamos ele fazer a janta na noite seguinte, quando ...
 - Vocês são tudo um bando de sem paladar. Não sabem a preciar o valor de uma cozinha autoral. Não têm categoria para comer minha comida cinco estrelas.
 Eu e meus irmãos nos olhamos e em uma fração de segundo decidimos o que devíamos fazer: ir para a RioSul nos encher de carboidratos. Andamos rumo à porta e o deixamos falando sozinho. Ah! Ele mereceu.



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sucesso ... Ai, se eu te pego!

Vem cá, por que tanto estardalhaço por conta do Michel Teló? Ele está fazendo sucesso com uma letra banal de refrão grudento e ritmo dançante. E daí? Isso por acaso é novidade no Brasil? Por favor, vamos segurar o Tchan, cada um no seu quadrado? Deixem o menino em paz! Ele tá feliz, fazendo o que gosta e, melhor!, ganhando a vida com isso. E fez sua primeira turnê internacional! Viva ele!
O Tom Jobim costumava dizer que no Brasil sucesso é ofensa pessoal. Sucesso internacional, então… Depois de ler a carta que o Bruno Medina escreveu ao Teló e navegar por vários textos na internet (todos comentando o sucesso da música, alguns pesando a mão na agressividade), resolvi escrever também. Como disse meu amigo Igor Henrique no Facebook, o brasileiro que fala mal do cara é o mesmo que paga fortunas para ver shows de bandas internacionais de talento duvidoso, com músicas muito piores do que “Ai, Se Eu te Pego”. Por que a gente pode consumir músicas grudentas de gringos e os gringos não podem fazer o mesmo com um produto nosso? Calma, gente… É só uma música!
 Vi agora o clipe no You Tube. É simples, muito simples, e o cara tem um carisma absurdo (e carisma é parceiro do sucesso, andam de mãos dadas, certo?). Ele é magnético, tem uma boa voz e a música se resume a um refrão-chiclete. Ponto final. Sucesso é isso. E o bacana do sucesso é que ele não tem porquê, não tem fórmula.
Existem músicas melhores que deveriam fazer o mesmo sucesso estrondoso? Sim, certamente. Assim como muitas cantoras infinitamente melhores do que a Britney Spears também poderiam estar por aí, brilhando sem playback e enchendo o cofrinho de dinheiro. Mas aprendi cedo que a vida não é justa. E que a sorte conta muito; assim como a persistência.
Caetano, Chico, Beatles, Elvis… Todos geniais. E todos criticados em algum momento. Não estou comparando Michel Teló a eles, claro que não!, estou apenas dizendo que sucesso sempre vai gerar críticas. E que bom que a gente vive numa democracia, onde todo mundo que tem uma opinião formada sobre tudo pode mostrar essa opinião a quem quer que seja nas redes sociais e nos blogs. Mas crítica é crítica, agressividade é outra coisa. Não gosta da música? É só não ouvir, caramba!

Como dizia o filósofo, a inveja é o maior dos elogios.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Gostosona, não!

Faz uns 3 anos que levei uma bela bronca da mãe de uma amiga quando lhe fiz um elogio. Explico: ela, linda e reluzente do alto de seus cinquenta e poucos anos, chegou a uma festa e eu não consegui dizer outra coisa a não ser:
- Nossa! Tá bonitona, hein, tia?
Sim, eu não consigo perder o hábito de chamar de tia as mães das minhas amigas, aquelas que eu conheço desde pirralha. Mas não foi isso que a incomodou.
- Ah, não, Juliana! Não me venha com esse negócio de bonitona!
- Por quê? Já sei, tá mais que bonitona! Tá lindona!
- PelamordeDeus, Juliana, para com isso! Nem bonitona, nem lindona! Muito menos gostosona, faça-me o favor!
Percebendo a minha cara de interrogação, ela esclareceu:
- Querida, quando a gente fica velha ninguém mais elogia a gente direito. Comecei a perceber isso quando fiz 50. Bonita, linda, gostosa… Esquece! Agora só ganho adjetivos terminados em ona. E isso me lembra vovozona, velhona, matrona… Sei lá. Eu acho que estou simplesmente bonita. Não acha?
Poin! Poin! Poin! Vinte martelos de brinquedo bateram ao mesmo tempo dentro do meu cérebro. Ela estava certa, certíssima! E hoje, aos 17 anos (17 anos!) eu mesma já percebo que o passar do tempo traz com ele elogios… hummm… diferentes, digamos assim.
no Twitter, um garoto escreveu:
“Essa @julianaafernandes é a maior coroa enxuta. Pegava fácil”.
Eu… Coroa! COROA! C-O-R-O-A!!! Para o mundo que eu quero descer!
Sou do tempo em que coroas eram as amigas das nossas mães quando a gente tinha 13, 14 anos. Ok, fui ver o perfil do menino e ele devia ter uns 13 anos. Sim, eu sou mais velha que ele uns aninhos, mas coroa… Eu confesso que não estava preparada.
Além do bonitona, que já vetei do meu vocabulário, e do coroa enxuta (as duas palavras são, sozinhas, abomináveis, juntas equivalem praticamente a um crime hediondo!), a idade traz outros elogios pouco elogiosos.
- Nossa, mas a fulana tá muito bem, né?
- Bem tô eu! A Fulana tá ótima!
Por que a fulana está muito bem? Ou ótima? O que está implícito é o terrível fim da frase: “para a sua idade“.
Por que a fulana não pode estar simplesmente bonita, como bem frisou a mãe da minha amiga? Eu tenho ouvido muito isso. “Você tá ótima” pra lá, “Tá com tudo em cima” pra cá…
Povo! Homens, principalmente!, vamos parar com esse negócio de falar que a mulherada está bem! A Deborah Bloch, a Luiza Brunet, a Xuxa e tantas outras mulheres maravilhosas continuam lindas. Deslumbrantes. Assim como a Gloria Maria, a Natália do Valle e a Christiane Torloni! E tantas outras anônimas que existem por aí, com corpo incrível (não “com tudo em cima”), pele viçosa e alegria de viver (nada de “impressionante como ela ainda é animada”), entre outros predicados.
Os 50 são os novos 40, os 40 os novos 30 e os 30 os novos 20. Combinado? Sendo assim, tenho 17, com corpinho de 16, ok?
E, garoto do Twitter, antes que eu me esqueça, coroa enxuta é a sua avó! Ou melhor, bisavó! Se ela não se ofender, é claro. !

Friendly Bathroom

A verdade é dura: se tem uma coisa que toda mulher entende é de homem que depois de uma noite maravilhosa pede o seu telefone e não liga no dia seguinte. Uns ligam três dias depois; outros nunca ligam, simplesmente evaporam e fazem você se sentir a pior mulher do planeta. Tenho um amigo que diz que sumir é a melhor maneira de terminar um relacionamento que está no começo. Critiquei, disse que ele era um covarde. E ele reagiu, com a maior naturalidade: “não sou covarde. Sou homem. E homens são assim”.
Isto posto, conto a história a seguir, que aconteceu em um bar movimentado da sempre movimentada Saquarema. Depois de encher a pança de petiscos deliciosamente engordativos com amigos queridos, resolvi ir ao banheiro antes de pegar o táxi de volta para o Sítio. Lá, não pude deixar de ouvir a conversa de duas adolescentes de no máximo uns 19 anos, uma que estava do lado de fora, já lavando as mãos, e outra que, como eu, estava de porta fechada, digamos, concentrada.
- Agora é oficial, Nádia. O Mateus me deu um pé na bunda mesmo! – disse minha vizinha de sanitário.
- Não fala assim, Eduarda… – disse a amiga, solidária.
- Falo, sim! O palhaço me chamou para conversar e veio com aquele papinho de que o problema não é comigo, é com ele. E pior! Teve a cara de pau de dizer que está num momento muito dele…
- Momento muito dele uma ova! – defendeu Nádia. – Não suporto esse texto! Os homens não têm a menor criatividade! Ele ficou em cima de você um tempão. Agora que você resolveu dar mole o cara desiste de você? Não entendo os homens!
- Pois é, nem eu. Ele parecia tão apaixonado…
- E eu não sei, Eduarda?
- Até flores ele me deu…
- Pegou no canteiro da portaria do seu prédio!
- Mas deu!
- É… Deu…
- Sinal de afeto.
- Ou de sovinice… Mas tudo bem… O que vale é a intenção…
- Pois é! Sei que não devo ligar, mas eu estou morrendo de vontade de falar com ele de novo. O que você acha?
- Não sei…
- Ô, Nádia, ‘Não sei’ não é resposta. Me ajuda, amiga! Eu ligo ou não ligo?
- Não sei, ué!
- Vai que ele morreu!
- Vaso ruim não quebra!
- Nádia! – estrilou Eduarda. Tadinha! – Sério, ligo ou não ligo? Vai que aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada, ele só não tá mais a fim de você, não viu Sex and the City? Em bom português, ele tá cagando pra você, Eduarda.
- Pô, Nádia, pegou pesado agora…
- Desculpa.
- Não sei… Tô com um aperto no coração. Fiquei com ele quase dois meses…
- Um mês e 17 dias.
- Nádia! – Eduarda gritou. – Eu acho que devo seguir meu sexto sentido e ligar pra tirar essa história a limpo. O que você acha?
Silêncio do outro lado. Ela insistiu:
- Conversar é sempre válido… Não é?
Mais silêncio.
- Nádia? Nádia! Nádiaaaaa!!!
Profundo silêncio.
- Nádia, você tá aí?
Como diria Nelson Rodrigues, um silêncio ensurdecedor tomou conta do banheiro.
Nádia não respondeu. VAAAACA.
Eu, solidariedade em forma de pessoa, resolvi me meter:
- Nádia não tá, mas eu tô, Eduarda! Eu tô aqui pra você, querida! E acho que Mateus não presta! Não liga pra Mateus! Mateus é um idiota que não te merece! NÃO TE MERECE! – gritei exaltada, louca.
Só ouvi uma gargalhada. Gargalhada gigante, saborosa. Ri também e continuei.
- Desculpa, Eduarda, mas precisei me meter. Mateus é uma porcaria de homem, parte pra outra, tenho certeza de que você vai encontrar coisa melhor!
Mais risadas do outro lado e o barulho da descarga.
- Isso é maravilhoso! Morei nos Estados Unidos cinco anos e isso nunca aconteceu! Imagina se eu receberia conselho de alguma gringa num banheiro – comentou Eduarda. – Sai daí, mulher, preciso ver sua cara e te dar um abraço.
Saí e dei de cara com ela e com a tal da Nádia, que estava chorando de rir encostada na pia.
- Fala sério, Nádia! Não acredito que você estava aqui o tempo todo! Deixou a coitada da Eduarda falando sozinha! – bronqueei, rindo, enquanto estendia os braços para dar na Eduarda, minha nova melhor amiga de infância (e de banheiro), um abraço apertado.
- Ela é uma palhaça, não merece minha amizade, agora minha amiga é você. Qual o seu nome? – perguntou Eduarda, toda simpática.
- Juliana.
- Você ouviu tudo, é?
- Absolutamente tudo. Desculpa, eu sou escritora, quer dizer, escrevo alguns textos e comecei agora o meu primeiro livro, tenho esse pretexto para escutar conversas alheias – expliquei. – Promete que não vai ligar pro Mateus?
- Prometo. Você acha que ele não presta mesmo?
- Claro. Resolveu fazer jogo duro agora só porque você está a fim dele. Deixa o cara sentir sua falta, ter saudade de você. Ele que tem que te ligar! Se não ligar… dane-se ele!
- Certíssima! – exclamou Nádia.
- Agora você fala, né, Nádia? – implicou Eduarda.
- Valeu, gente, tenho que ir. Muito bom conhecer vocês.
- Não, espera, Juliana. Você tá no Face? Posso te adicionar?
Viramos amigas de Face, trocamos emails, tiramos foto com nossos celulares e passamos a nos corresponder com frequência. Eduarda não ligou para Mateus. Mateus, depois de duas semanas, ligou para Eduarda. Ela, bonita e no salto, dispensou Mateus.
Mateus eu não sei que fim levou, mas Eduarda logo depois do nosso encontro banheirístico engatou um namoro com um cara de 24 anos, alto, sarado, bonito, educado, gentil, cheiroso, bem-sucedido e gente boa. Apaixonada, chegou até a me chamar para ser madrinha do casamento depois do terceiro encontro. O homem da minha vida, dizia ela. Na terceira semana descobriu que ele era noivo e o namoro, claro, desandou.
Meses depois, Eduarda, arrasada por não ter muita sorte com homens, conheceu o Daniel numa casa noturna vazia, em plena quarta-feira chuvosa. Estava à procura de diversão, desiludida com a ala masculina da Humanidade, mas achou um namorado. Estão viajando pelo Rio para comemorar seu primeiro mês juntos. E são um casal muito fofo. Sei pelo Facebook. Nunca mais nos vimos pessoalmente, mas a gente se fala de vez em quando pelo chat da rede social. Mundo moderno.