Isto posto, conto a história a seguir, que aconteceu em um bar movimentado da sempre movimentada Saquarema. Depois de encher a pança de petiscos deliciosamente engordativos com amigos queridos, resolvi ir ao banheiro antes de pegar o táxi de volta para o Sítio. Lá, não pude deixar de ouvir a conversa de duas adolescentes de no máximo uns 19 anos, uma que estava do lado de fora, já lavando as mãos, e outra que, como eu, estava de porta fechada, digamos, concentrada.
- Agora é oficial, Nádia. O Mateus me deu um pé na bunda mesmo! – disse minha vizinha de sanitário.
- Não fala assim, Eduarda… – disse a amiga, solidária.
- Falo, sim! O palhaço me chamou para conversar e veio com aquele papinho de que o problema não é comigo, é com ele. E pior! Teve a cara de pau de dizer que está num momento muito dele…
- Momento muito dele uma ova! – defendeu Nádia. – Não suporto esse texto! Os homens não têm a menor criatividade! Ele ficou em cima de você um tempão. Agora que você resolveu dar mole o cara desiste de você? Não entendo os homens!
- Pois é, nem eu. Ele parecia tão apaixonado…
- E eu não sei, Eduarda?
- Até flores ele me deu…
- Pegou no canteiro da portaria do seu prédio!
- Mas deu!
- É… Deu…
- Sinal de afeto.
- Ou de sovinice… Mas tudo bem… O que vale é a intenção…
- Pois é! Sei que não devo ligar, mas eu estou morrendo de vontade de falar com ele de novo. O que você acha?
- Não sei…
- Ô, Nádia, ‘Não sei’ não é resposta. Me ajuda, amiga! Eu ligo ou não ligo?
- Não sei, ué!
- Vai que ele morreu!
- Vaso ruim não quebra!
- Nádia! – estrilou Eduarda. Tadinha! – Sério, ligo ou não ligo? Vai que aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada, ele só não tá mais a fim de você, não viu Sex and the City? Em bom português, ele tá cagando pra você, Eduarda.
- Pô, Nádia, pegou pesado agora…
- Desculpa.
- Não sei… Tô com um aperto no coração. Fiquei com ele quase dois meses…
- Um mês e 17 dias.
- Nádia! – Eduarda gritou. – Eu acho que devo seguir meu sexto sentido e ligar pra tirar essa história a limpo. O que você acha?
Silêncio do outro lado. Ela insistiu:
- Conversar é sempre válido… Não é?
Mais silêncio.
- Nádia? Nádia! Nádiaaaaa!!!
Profundo silêncio.
- Nádia, você tá aí?
Como diria Nelson Rodrigues, um silêncio ensurdecedor tomou conta do banheiro.
Nádia não respondeu. VAAAACA.
Eu, solidariedade em forma de pessoa, resolvi me meter:
- Nádia não tá, mas eu tô, Eduarda! Eu tô aqui pra você, querida! E acho que Mateus não presta! Não liga pra Mateus! Mateus é um idiota que não te merece! NÃO TE MERECE! – gritei exaltada, louca.
Só ouvi uma gargalhada. Gargalhada gigante, saborosa. Ri também e continuei.
- Desculpa, Eduarda, mas precisei me meter. Mateus é uma porcaria de homem, parte pra outra, tenho certeza de que você vai encontrar coisa melhor!
Mais risadas do outro lado e o barulho da descarga.
- Isso é maravilhoso! Morei nos Estados Unidos cinco anos e isso nunca aconteceu! Imagina se eu receberia conselho de alguma gringa num banheiro – comentou Eduarda. – Sai daí, mulher, preciso ver sua cara e te dar um abraço.
Saí e dei de cara com ela e com a tal da Nádia, que estava chorando de rir encostada na pia.
- Fala sério, Nádia! Não acredito que você estava aqui o tempo todo! Deixou a coitada da Eduarda falando sozinha! – bronqueei, rindo, enquanto estendia os braços para dar na Eduarda, minha nova melhor amiga de infância (e de banheiro), um abraço apertado.
- Ela é uma palhaça, não merece minha amizade, agora minha amiga é você. Qual o seu nome? – perguntou Eduarda, toda simpática.
- Juliana.
- Você ouviu tudo, é?
- Absolutamente tudo. Desculpa, eu sou escritora, quer dizer, escrevo alguns textos e comecei agora o meu primeiro livro, tenho esse pretexto para escutar conversas alheias – expliquei. – Promete que não vai ligar pro Mateus?
- Prometo. Você acha que ele não presta mesmo?
- Claro. Resolveu fazer jogo duro agora só porque você está a fim dele. Deixa o cara sentir sua falta, ter saudade de você. Ele que tem que te ligar! Se não ligar… dane-se ele!
- Certíssima! – exclamou Nádia.
- Agora você fala, né, Nádia? – implicou Eduarda.
- Valeu, gente, tenho que ir. Muito bom conhecer vocês.
- Não, espera, Juliana. Você tá no Face? Posso te adicionar?
Viramos amigas de Face, trocamos emails, tiramos foto com nossos celulares e passamos a nos corresponder com frequência. Eduarda não ligou para Mateus. Mateus, depois de duas semanas, ligou para Eduarda. Ela, bonita e no salto, dispensou Mateus.
Mateus eu não sei que fim levou, mas Eduarda logo depois do nosso encontro banheirístico engatou um namoro com um cara de 24 anos, alto, sarado, bonito, educado, gentil, cheiroso, bem-sucedido e gente boa. Apaixonada, chegou até a me chamar para ser madrinha do casamento depois do terceiro encontro. O homem da minha vida, dizia ela. Na terceira semana descobriu que ele era noivo e o namoro, claro, desandou.
Meses depois, Eduarda, arrasada por não ter muita sorte com homens, conheceu o Daniel numa casa noturna vazia, em plena quarta-feira chuvosa. Estava à procura de diversão, desiludida com a ala masculina da Humanidade, mas achou um namorado. Estão viajando pelo Rio para comemorar seu primeiro mês juntos. E são um casal muito fofo. Sei pelo Facebook. Nunca mais nos vimos pessoalmente, mas a gente se fala de vez em quando pelo chat da rede social. Mundo moderno.
- Nádia? Nádia! Nádiaaaaa!!!
Profundo silêncio.
- Nádia, você tá aí?
Como diria Nelson Rodrigues, um silêncio ensurdecedor tomou conta do banheiro.
Nádia não respondeu. VAAAACA.
Eu, solidariedade em forma de pessoa, resolvi me meter:
- Nádia não tá, mas eu tô, Eduarda! Eu tô aqui pra você, querida! E acho que Mateus não presta! Não liga pra Mateus! Mateus é um idiota que não te merece! NÃO TE MERECE! – gritei exaltada, louca.
Só ouvi uma gargalhada. Gargalhada gigante, saborosa. Ri também e continuei.
- Desculpa, Eduarda, mas precisei me meter. Mateus é uma porcaria de homem, parte pra outra, tenho certeza de que você vai encontrar coisa melhor!
Mais risadas do outro lado e o barulho da descarga.
- Isso é maravilhoso! Morei nos Estados Unidos cinco anos e isso nunca aconteceu! Imagina se eu receberia conselho de alguma gringa num banheiro – comentou Eduarda. – Sai daí, mulher, preciso ver sua cara e te dar um abraço.
Saí e dei de cara com ela e com a tal da Nádia, que estava chorando de rir encostada na pia.
- Fala sério, Nádia! Não acredito que você estava aqui o tempo todo! Deixou a coitada da Eduarda falando sozinha! – bronqueei, rindo, enquanto estendia os braços para dar na Eduarda, minha nova melhor amiga de infância (e de banheiro), um abraço apertado.
- Ela é uma palhaça, não merece minha amizade, agora minha amiga é você. Qual o seu nome? – perguntou Eduarda, toda simpática.
- Juliana.
- Você ouviu tudo, é?
- Absolutamente tudo. Desculpa, eu sou escritora, quer dizer, escrevo alguns textos e comecei agora o meu primeiro livro, tenho esse pretexto para escutar conversas alheias – expliquei. – Promete que não vai ligar pro Mateus?
- Prometo. Você acha que ele não presta mesmo?
- Claro. Resolveu fazer jogo duro agora só porque você está a fim dele. Deixa o cara sentir sua falta, ter saudade de você. Ele que tem que te ligar! Se não ligar… dane-se ele!
- Certíssima! – exclamou Nádia.
- Agora você fala, né, Nádia? – implicou Eduarda.
- Valeu, gente, tenho que ir. Muito bom conhecer vocês.
- Não, espera, Juliana. Você tá no Face? Posso te adicionar?
Viramos amigas de Face, trocamos emails, tiramos foto com nossos celulares e passamos a nos corresponder com frequência. Eduarda não ligou para Mateus. Mateus, depois de duas semanas, ligou para Eduarda. Ela, bonita e no salto, dispensou Mateus.
Mateus eu não sei que fim levou, mas Eduarda logo depois do nosso encontro banheirístico engatou um namoro com um cara de 24 anos, alto, sarado, bonito, educado, gentil, cheiroso, bem-sucedido e gente boa. Apaixonada, chegou até a me chamar para ser madrinha do casamento depois do terceiro encontro. O homem da minha vida, dizia ela. Na terceira semana descobriu que ele era noivo e o namoro, claro, desandou.
Meses depois, Eduarda, arrasada por não ter muita sorte com homens, conheceu o Daniel numa casa noturna vazia, em plena quarta-feira chuvosa. Estava à procura de diversão, desiludida com a ala masculina da Humanidade, mas achou um namorado. Estão viajando pelo Rio para comemorar seu primeiro mês juntos. E são um casal muito fofo. Sei pelo Facebook. Nunca mais nos vimos pessoalmente, mas a gente se fala de vez em quando pelo chat da rede social. Mundo moderno.
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