Faz uns 3 anos que levei uma bela bronca da mãe de uma amiga quando lhe fiz um elogio. Explico: ela, linda e reluzente do alto de seus cinquenta e poucos anos, chegou a uma festa e eu não consegui dizer outra coisa a não ser:
- Nossa! Tá bonitona, hein, tia?
Sim, eu não consigo perder o hábito de chamar de tia as mães das minhas amigas, aquelas que eu conheço desde pirralha. Mas não foi isso que a incomodou.
- Ah, não, Juliana! Não me venha com esse negócio de bonitona!
- Por quê? Já sei, tá mais que bonitona! Tá lindona!
- PelamordeDeus, Juliana, para com isso! Nem bonitona, nem lindona! Muito menos gostosona, faça-me o favor!
Percebendo a minha cara de interrogação, ela esclareceu:
- Querida, quando a gente fica velha ninguém mais elogia a gente direito. Comecei a perceber isso quando fiz 50. Bonita, linda, gostosa… Esquece! Agora só ganho adjetivos terminados em ona. E isso me lembra vovozona, velhona, matrona… Sei lá. Eu acho que estou simplesmente bonita. Não acha?
Poin! Poin! Poin! Vinte martelos de brinquedo bateram ao mesmo tempo dentro do meu cérebro. Ela estava certa, certíssima! E hoje, aos 17 anos (17 anos!) eu mesma já percebo que o passar do tempo traz com ele elogios… hummm… diferentes, digamos assim.
no Twitter, um garoto escreveu:
“Essa @julianaafernandes é a maior coroa enxuta. Pegava fácil”.
Eu… Coroa! COROA! C-O-R-O-A!!! Para o mundo que eu quero descer!
Sou do tempo em que coroas eram as amigas das nossas mães quando a gente tinha 13, 14 anos. Ok, fui ver o perfil do menino e ele devia ter uns 13 anos. Sim, eu sou mais velha que ele uns aninhos, mas coroa… Eu confesso que não estava preparada.
Além do bonitona, que já vetei do meu vocabulário, e do coroa enxuta (as duas palavras são, sozinhas, abomináveis, juntas equivalem praticamente a um crime hediondo!), a idade traz outros elogios pouco elogiosos.
- Nossa, mas a fulana tá muito bem, né?
- Bem tô eu! A Fulana tá ótima!
Por que a fulana está muito bem? Ou ótima? O que está implícito é o terrível fim da frase: “para a sua idade“.
Por que a fulana não pode estar simplesmente bonita, como bem frisou a mãe da minha amiga? Eu tenho ouvido muito isso. “Você tá ótima” pra lá, “Tá com tudo em cima” pra cá…
Povo! Homens, principalmente!, vamos parar com esse negócio de falar que a mulherada está bem! A Deborah Bloch, a Luiza Brunet, a Xuxa e tantas outras mulheres maravilhosas continuam lindas. Deslumbrantes. Assim como a Gloria Maria, a Natália do Valle e a Christiane Torloni! E tantas outras anônimas que existem por aí, com corpo incrível (não “com tudo em cima”), pele viçosa e alegria de viver (nada de “impressionante como ela ainda é animada”), entre outros predicados.
Os 50 são os novos 40, os 40 os novos 30 e os 30 os novos 20. Combinado? Sendo assim, tenho 17, com corpinho de 16, ok?
E, garoto do Twitter, antes que eu me esqueça, coroa enxuta é a sua avó! Ou melhor, bisavó! Se ela não se ofender, é claro. !
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