quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"Politicamente correto" o cacet... Digo, "uma ova" !


Sei que algumas pessoas me consideram “politicamente correta” - algumas, tratando a expressão elogio; outras, com desprezo e deboche. Sinceramente, não me considero elogiada... Acho esse negócio de “politicamente” uma tremenda bobagem. O que diabos quer dizer o advérbio nessa expressão? Mas acho que se pode, sim, discutir o que é correto e incorreto no trato com as pessoas, e isso inclui a linguagem. Até parece que as palavras não têm importância nenhuma... Se não tivessem, não ficaríamos tão felizes com algumas que nos são ditas e tão furiosos com outras. E como há muitas sutilezas, muitas divergências, há tantas discussões a respeito. Tempos atrás, usei a palavra “velho” em uma redação de Educação Física. Eu dizia que é um absurdo haver pessoas - no caso, eram torcedores enfurecidos - capazes de agredir um velho; que é um sinal gritante de problemas na sociedade o fato de já não respeitarmos velhos, mulheres e crianças. Pois bem, recebi uma bronca do professor, para quem eu não devia dizer “velho”, e sim usar a palavra “idoso”. Que eu acho feia, metida, forçada. Pra mim, velho não é ofensa, tanto quanto novo ou jovem não é elogio - é só circunstância! Eu quero ficar velha! Adoooro roupa velha, meus livros velhos, casas velhas... Mas há palavras que realmente prefiro não usar, e recomendo que as pessoas não usem - incluindo meus colegas . E quer ver como vocês vão entender e concordar comigo? Tanto que, de fato, elas foram praticamente abolidas. “Leproso” e “lepra”, por exemplo, têm uma carga tão pejorativa, tão negativa, que não são mais usadas. É melhor falar em “hanseníase” - uma doença com tratamento e cura. O mesmo vale para “aidético”. Isso lá é jeito de se referir a alguém? O sujeito não “é aidético”. Como definir alguém pela doença que tem?? Há muitos anos não se fala em “mongolóides”, ainda bem! Como já está quase esquecido, eu talvez nem devesse lembrar que o termo era usado para descrever as pessoas com Síndrome de Down. Era ou não era horroroso? Eu ainda batalho pela exclusão ou pelo menos o uso cuidadoso de algumas outras palavras. “Viciado” é uma delas. “Vício” tem o sentido de defeito moral; é o oposto de virtude... Mas dependência é uma doença, não uma “fraqueza moral”. Além disso, é comum usar “viciado” para se referir ao usuário de drogas que não é dependente, o que é um erro grave de informação e serve para aumentar ainda mais a confusão em torno do tema. (Aliás, outro dia ouvi uma pessoa dizer que tem um projeto com “dependentes de drogas e alcoólatras”... Como se os últimos não fossem dependentes de uma droga também! “Droga” é outra palavra meio mal usada...). Existem mil outras palavras que deveriam ser banidas. O famoso “doutor”, por exemplo, para se dirigir a ricos, engravatados e autoridades... O “excelência” que é obrigatório por regimento quando um vereador se dirige a outro no plenário.... É tão forçado que fica ridículo. Uma discussão séria sobre palavras aconteceu outro dia, por causa da famosa desavença entre Grafite e o argentino Desabato. Afinal, dirigir-se a alguém como “negro” é ofensivo? Depende... José Geraldo Couto, em texto brilhante na Folha, resumiu: “Entre o “minha nega” dito com afeto por um homem apaixonado e o “sua negra” dito com rispidez por uma patroa há um abismo cavado por séculos de história”. Perfeito, não?

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