Casimiro de Abreu, 17 de Fevereiro de 2012
Senhora Marta Medeiros:
Eu, pequena admiradora dos seus textos, venho por meio desta carta explicitar minha fome. Suas palavras foram bombas calóricas que me energizaram para falar, desconsiderando a balança do coração e os centímetros a mais na cintura da consciência. Hoje está chovendo aqui em Casimiro, e a água, ao invés de disfarçar a fome, deixá-la para mais tarde, faz meu estômago querer me engolir.
A paixão não é vermelha. Paixão é branca, e quando decomposta, reflete as sete cores. Eu tenho fome de paixão, fome de cores e de vida. A gravidade evidencia o peso do meu corpo, mesmo corpo que era leve e colorido, e que agora mendiga as migalhas de alguém que ignora seu estado morimbundo.
"Fome de confiança: ah, essa não dá para esquecer.", disse Lya Luft. A cura para minha fome está na autotrofização do meu ser, na minha autoprodução de felicidade e aconchego, na confiança em quem nunca me abandonou, ou mentiu: eu mesma. Sei que tenho que me alimentar, mas faltam-me forçar para levantar o garfo.
"A fome é mais violenta do que o desejo.", não me restam dúvidas. Mesmo querendo ficar, mesmo desejando desejar modernamente, minha fome todo dia grita que não nasci para isso. Tenho dois olhos, um nariz, uma boca e sou considerada perfeitamente inteira. Por que viver então com o coração aos pedacinhos? Vago pelas ruas tentando esquecer o farto banquete e procurando qualquer média requentada.
Reclamo da fome mesmo sem nunca ter conseguido ficar plenamente satisfeita com a saciedade. Fome de vencer, fome de ligações, fome de carinho, fome de presença, fome de consideração, fome de paixão. A vontade de comer cores, vida é o que nunca deixa a acomodação chegar e nos faz levntar da cama todos os dias.
Atenciosamente, Juliana Lopes Fernandes.